“Para onde quer que as mãos se movam, os olhos a seguem. Para onde quer que os olhos vão, o pensamento os segue. Para onde o pensamento vai, segue atrás o sentimento, e onde o sentimento vai, encontramos Rasa”
Yato hastastato drishTiryato drishTistato manah
Yato manastato bhavo yato bhavastato rasah
Nandikeshwara
A palavra em sânscrito RASA, dentre seus muitos significados, quer dizer sabor, sentimento ou a sensação que o espectador experimenta ao apreciar uma obra de Arte.
No período védico (por volta de três mil anos a.C.) já se utilizava a palavra RASA significando seiva, essência, sentimento, porém antes da Era Cristã seu significado alcançou um sentido estético. O dicionário sânscrito de Mornier-Williams atribui outros significados para Rasa: a seiva ou o suco das plantas; suco de frutas; qualquer líquido ou fluído; a melhor, a mais fina ou a parte prima de alguma coisa; essência, medula, elixir, poção; o fluído seminal de Shiva; charme, prazer, deleite, o sabor ou o caráter de uma obra ou seu sentimento prevalecente. Logo, Rasa é algo repleto de significados e um propósito, o de despertar o encantamento estético no espectador.
Durante uma performance, o músico Nandikesvara dizia que três elementos fundamentais se combinam: 1 Sangita, a música e a dança, 2 Bhava, ou os estados mentais que envolvem as representações das circunstâncias dramáticas e suas regras, como emoções generalizadas e, 3 Rasa, o sabor ou a essência, interpretada e absorvida pelo espectador. Esses componentes interagindo em uma teia de significações conectam as mentes dos artistas e dos espectadores.
Bharata, que de acordo com a mitologia hindu criou o teatro, menciona oito Rasas, com a mesma importância, pela razão de todo ser humano ser capaz de senti-los e vivê-los, que são: Shmgara (Sçïgàra), o Erótico; Hasya (Hàsya), o Cômico; Karuna (Karuõa), o Patético; Raudra (Raudra), o Furioso; Vira (Vara), o Heróico; Bhayanaka (Bhayànaka), o Terrível; Bibhatsa (Bãbhatsa), o Abominável e Adbhuta (Adbhåta), o Maravilhoso. Contudo, para o filósofo e teórico, Abhinavagupta, um nono Rasa, Shanta, a Tranqüilidade, é considerado; e este deve ser destacado, segundo ele, pois é um pré-requisito básico para que o espectador desfrute o estético. Palavras de Bharata sobre o Rasa: “É Rasa porque pode ser saboreado. Como se saboreia o Rasa? Assim como os gourmets apreciam pratos preparados com diversos ingredientes deliciosos e muitas especiarias, as pessoas sensíveis desfrutam em suas mentes as emoções apresentadas pelas diferentes formas de representação dos afetos transientes e suas causas; apresentados com a entonação apropriada da voz, movimentos corporais e reações involuntárias. Isto explica porque essas emoções primárias são conhecidas no teatro como Rasa.” Com essa alusão, Bharata, expõe a necessidade do espectador ser sensível, estar disposto e ter boa vontade para experimentar o Rasa. Pois, mais do que simplesmente um sabor, é uma combinação de ingredientes submetidos a um processo.
Assim como o espectador precisa ser sensível e conhecedor das artes, o artista precisa ser especialmente treinado. Nesse processo proporcionado pelo artista em comunhão com o espectador, a consciência é tomada pelo Rasa.
Fonte: http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/galaxia/article/viewFil… RANGACHARYA, Adya; The Natyasastra – Munshira Manoharial Publishers Pvt Ltd. India, 1996.